sábado, 24 de dezembro de 2016

Entrevista a Susana Sá








 1-Com que idade surgiu o teu encanto pela representação?

Desde que tive consciência que gostava de brincar ao faz de conta.  A primeira vez que verbalizei  a minha vontade de ser actriz foi aos 14 anos.


2- Quais as Interpretações que mais te marcaram? Porquê?

No cinema, a Noémia do Espelho Mágico pela admiração profunda que tenho pelo trabalho do Manoel de Oliveira, a sua matemática poética, o discurso filosófico dos seus filmes. E a Sarah Kruger do filme do Francisco Manso, O Cônsul de Bordéus. Um filme justo e necessário sobre uma das figuras mais admiráveis do nosso país, o Aristides Sousa Mendes, uma voz de resistência num dos episódios mais vergonhosos da humanidade.A Sarah Kruger existiu na realidade, fez parte dos que resistiram, foi um privilégio dar-lhe a minha voz. No teatro, as personagens da peça Os Assassinos, encenada pelo Bruno Bravo e da peça Faz Escuro nos Olhos, encenada pelo Rogério de Carvalho. Em ambos os casos pelo método de trabalho dos encenadores e o discurso lúcido destas personagens. Na televisão, a Nicha, da Lenda da Garça, que foi o meu primeiro trabalho enquanto actriz, tudo era aprendizagem. E claro a minha querida Antónia Félix da recente série da TVI, Massa Fresca, a primeira vilã que tive o prazer de interpretar. 


3- De todas as tuas personagens, qual delas é que achas que teve mais alcance do público? Porquê?

Creio que a Antónia Félix, a televisão chega a muitos, a um público em maior escala. Tenho uma lembrança já com alguns anos e muito bonita: a propósito da Maria Parda que fiz em teatro. Creio que teria 23 ou 24 anos. A de ter recebido cartas de pessoas, público, que acompanhavam o percurso do TEP, e que referiam a Maria Parda anos depois de a ter feito. Isso é muito forte.


4- És muito acarinhada pelo público, queres contar algum episódio
"engraçado" que tenhas passado com algum fã?

Gosto de ler esta tua pergunta. Fico feliz com tanto carinho e aproveito para agradecer as mensagens lindíssimas que recebo e os grupos de fãs que criaram. Tenho um episódio engraçado que se passou no início deste ano lectivo numa das escola onde leciono. Estávamos no salão nobre, no primeiro dia de aulas, na apresentação formal do curso e do corpo docente, e, de repente, ouço uma voz a dizer bem alto e com um tom um tanto preocupado, mais ou menos o seguinte: "Ai, está ali a Antónia. O que ela está aqui a fazer? Ai, é a Antónia. É a Antónia, é! O que é que se está aqui a passar?! ". Bem, a apresentação parou e foi a risada total. 


5- Sei que tens um carinho especial pela tua personagem "Antónia", a grande Lady Boss! O que me tens a contar acerca deste projeto? Fala-me também sobre o ambiente e a equipa em estúdios.

Um grande carinho. Gosto de personagens com carácter forte. A Lady Boss (risos) reúne duas dimensões  que nuca tinha tido o prazer de trabalhar: ser a vilã e sofrer de um transtorno psicológico forte. E a transformação do aspecto da personagem ao longo da série foi um presente maravilhoso. Do aspecto e do comportamento. Foi um grande desafio  interpretar o que está eticamente errado.  Tive situações em que ficava indignada e incomodada depois de gravar. E outras situações, como nas festas populares, de me interpelarem, na rua, com o intuito de me convencerem a parar de fazer maldades e ouvir comentários como "o seu filho é tão querido, deixo-o lá namorar com a moça, coitado. Não sei como é que tem coragem, é mesmo má." Acho que o grande carinho que tenho pela Antónia vem de algo que não consigo dissociar das ditas personagens: a equipa de trabalho. Os colegas com quem trabalhei na Massa Fresca, em qualquer das frentes: actores, técnicos, produção, caracterização, guarda-roupa, guionistas, realização, coordenação e, claro, direção de actores estavam tão envolvidos, quase como se a Massa Fresca fosse um bebé a crescer e a precisar de toda a nossa atenção.Uma equipa maravilhosa. 
Isso reflectiu-se na resposta do público. Recebemos um prémio de melhor série. Estamos todos de parabéns. Fazer televisão não é fácil, é um contra relógio constante, mas a sintonia foi grande e muito bonita.  Fiz amigos!


6- Em 2017, irá estrear um filme português do qual tu fizeste parte, "De repente,a vida" , será que já me podes adiantar algo sobre o assunto? Falar um pouco da tua "Estela"? 

Vão estrear três filmes em que participei no próximo ano: Uma vida Sublime do Luís Diogo, com um argumento forte, que desperta até os mortos. (risos) Um outro filme será Imagens Proibidas do Hugo Diogo, que gostei bastante de fazer. Parte de um livro (Saudades de Nova Iorque) de um dos autores da minha juventude, o Pedro Paixão e estes encontros são sempre especiais. Isto lembra-me do entusiasmo que senti há uns anos quando participei no Triângulo Jota e Uma Aventura, foram livros que percorreram a minha infância.  As gravações do filme "De repente a Vida" ainda não terminaram. É um filme do Hugo Albuquerque que nos mostra a vida social de uma família portuguesa muito peculiar, é uma comédia - é a primeira vez que faço comédia em cinema - e a Estela é deliciosamente louca, enredada em delírios amorosos. 


7- Tu talvez não saibas, mas eu sei, tu és heroína de alguém. Recentemente começaste a ser uma grande referência e um grande orgulho. Como te sentes ao saber que fazes tanto bem a alguém?

Ser uma referência para alguém é um duplo lugar, de responsabilidade e contentamento.


8- Geralmente o público tem tendência a pensar que a vossa vida é a melhor e não tem tanta preocupação, mas ambas sabemos que não é assim! Quando te encontras triste o que fazes para fugir a isso?

Só um público muito desatento pensaria assim, não creio que seja o caso do público português.  Seguir a via artística como modo de vida é difícil num país pequeno, com poucos recursos e com um mercado pequeno. Há uma grande instabilidade que poderá significar passar temporadas sem trabalho. Quanto às gravações para a ficção, em televisão são várias horas de trabalho. Existem alturas em que chegas ao estúdio às 8 da manhã, sais muitas vezes às 7 da tarde e segues para casa decorar texto para o dia seguinte. Acrescenta-lhe o trânsito e as horas de sono...Mas quando gostas mesmo do que fazes e o que fazes é dar voz a um discurso, é contar histórias, é inquietar e é brincar também, é comunicar, - e eu acho que foi o teatro que me ensinou a falar e a ouvir - acontece algo que toca o insondável, parece que o dia cresce, o cansaço está lá mas o dia foi um dia maior. Mas respondendo à tua pergunta, quando me encontro menos contente vou ter com o mar, ouço Bach e levo comigo García Márquez.


9- O que é que mais te assusta nesta vida?

O medo.


10- Se a tua vida fosse um filme qual seria? Porquê?

Seria o meu, em perpétuo movimento, em constante construção  com pedaços que me fazem lembrar filmes de outros, o que é natural, somos todos feitos da mesma massa, medo e sonho. O que difere é o grau, o modo e a vontade.


11- Um bom relaxamento para ti é?

Dormir muito bem.


12- Como seria o teu lugar de sonho? E com quem o partilhavas? 

Teria que ter água, mar. Com quem? Isso é segredo.


13- Quais são os teus desejos para 2017?

Dias felizes e muita harmonia.









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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Entrevista a Marta Fernandes








1- Com que idade surgiu o teu encanto pela representação? 

Eu sempre gostei de palco, de espectáculo. Comecei por cantar... passava o dia a cantar. A minha mãe conta que eu cantarolava todos os gingles de publicidades na rádio e na televisão. Depois comecei as aulas de música e dança. Toquei numa orquestra durante alguns anos, e fazia espectáculos de dança, na zona onde vivia. Só mais tarde, quando estava no 9º ano, é que tive a certeza que queria fazer do espectáculo a minha vida. Estreei-me como actriz numa peça de teatro de escola, e fiquei apaixonada pela sensação de retratar emoções e vivências, através de personagens. Foi como uma aparição... e aconteceu em Fátima, na escola onde estudava nessa altura.
Assim que terminei o 12º ano, concorri ao curso de Teatro, da Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, e iniciei aí a minha formação superior.

 2- És a única artista na família, ou tens influencias dentro dela? 

Fui a única durante muitos anos, mas já não sou. Tenho duas irmãs que são bailarinas maravilhosas. Super talentosas e muito trabalhadoras. São uma inspiração para mim. E a minha Maria também tem revelado um talento incrível para cantar e dançar. 

3- De todos os grandes nomes da televisão portuguesa, qual é a tua maior referência? E da televisão estrangeira? 

Há muitos actores que se entregam a esta arte de uma forma inspiradora, e que são uma referência para mim. É difícil destacar nomes, porque são tantos, alguns que eu nem sei os nomes que, numa cena ou noutra, num trabalho ou noutro, me impressionam. Apesar de tudo, pela genialidade e pelos seus percursos artísticos, há alguns nomes que posso destacar: Maria João Luís, Rita Blanco Ana Bustorf, Ruy de Carvalho, Nicolau Breyner, João Lagarto, João Perry... Bem hajam todos estes, e todos os que se dedicam incondicional e apaixonadamente.

4-De todas as tuas personagens, qual delas é que achas que teve mais alcance do público? Porque? 

A minha personagem no projecto "Chiquititas" foi, definitivamente, muito popular. Era uma personagem carinhosa e que falava a língua das crianças. Isso revelou-se irresistível, e o retorno que tive do público foi surpreendente. Por outro lado, passados 11 anos, tenho recebido muito carinho por parte de pessoas da minha geração, que viram e agora estão a rever a série "Aqui Não Há Quem Viva", que já se tornou uma série de culto. Os 52 episódios estão todos online no youtube, e há quem passe as madrugadas a rir-se com um elenco extraordinário, do qual tive o privilégio de fazer parte. 

5- Dos Grandes nomes da televisão, cinema e teatro com quem é que gostarias de trabalhar? Ou voltar a trabalhar? 

Queria tanto voltar a contracenar com o Nico... tenho saudades dele. Foi ele que me dirigiu no meu primeiro projecto televisivo, e contracenámos em duas novelas. O Nico era generoso, divertido, apaixonado, intenso e muito competente. Ensinou-me tanto...
Quero muito cruzar-me com a Maria João Luís. 

6- Quais as interpretações que mais te marcaram?

Sem dúvida que as dezenas de personagens que fiz no projecto "Chiquititas" foram um grande desafio. 

7- Sentes que estás dividida entre a Representação e a Música, ou achas que não tens que escolher?

Não vou escolher... nunca! São duas paixões avassaladores, e vou querer viver com as duas para sempre
8- Já deu para entender que és muito acarinhada pelo público, queres contar algum episódio " engraçado" que tenhas passado com algum fã?

São tantos... Desde ter crianças a chorarem porque não querem vir ao meu colo, com as mães a obrigá-las. Encontros em casas de banho públicas, em que me reconhecem pela voz, mas não querem acreditar que sou eu que estou ali, e comentam comigo que sou exactamente igual à actriz que vêm na televisão. Pedidos para fazer totós no cabelo e começar a cantar, em qualquer sítio. Jovens que insistem comigo que na série "Aqui Não Há Quem Viva" eu usava peruca! São tantas histórias divertidas e carinhosas. Eu sinto-me muito grata pelo apoio e pelas palavras bonitas e sorrisos que me dedicam constantemente. Sou uma sortuda.

9-Como te defines enquanto actriz? E pessoa?

É difícil dissociar as duas vertentes. Digamos que sou uma actriz apaixonada, que perde horas do dia a pensar em assuntos que não fazem parte da vida real. Adoro o que faço, e isso é parte integrante da minha existência. 

10- Que características privilegias num amigo?

Honestidade e carácter. 

11- Que projectos estão previstos para os próximos tempos?

Estou a dedicar-me de corpo e alma a um projecto com o qual sonhava há muitos anos. O concerto que estreei na Madeira, no passado dia 19 de Novembro, e que se chama "Fado e o Mar que nos une".
Este concerto é fruto do amor. O amor pela canção, o amor pelo mar, o amor pela nossa língua… o amor pela liberdade. Sou uma “atriz com alma de cantora”. O meu percurso artístico tem sido o reflexo das minhas duas grandes paixões: o Teatro e a Música. Neste concerto, sonho há muito tempo por concretizar, apresento uma selecção de temas históricos da música brasileira, e do Fado que, por culpa do amor e do fascínio que intérpretes e compositores dos dois lados do oceano sempre sentiram pela poesia e musicalidades da nossa língua, fizeram nascer em parcerias aparentemente improváveis.  Fã na mesma proporção de fadistas como Hermínia Silva, Alfredo Marceneiro, Carminho, Mariza e Amália Rodrigues, e de nomes brasileiros como Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso e Milton Nascimento, sempre me “encontrou” a meio desse caminho, não tão transatlântico assim, onde o Fado e a música brasileira se encontram. O repertório deste concerto abrange desde canções lusitanas consagradas a fados mais recentes, passando por temas de compositores brasileiros que namoriscam o lirismo e a melancolia do espírito fadista. As músicas são costuradas por pequenos relatos históricos, poemas, e algumas curiosidades, potencializando não só semelhanças estéticas, como reforçando a ligação histórica entre Portugal e o Brasil. Este concerto é também uma Ode ao Oceano… temática recorrente em ambas as culturas musicais, que remete a uma imensidão misteriosa — ainda que convidativa.  "Como diria Vinícius de Moraes, “O sal das minhas lágrimas de amor criou o mar que existe entre nós dois para nos unir e separar." Neste concerto sou acompanhada por músicos residentes na Madeira que, comigo, propoem uma visão contemporânea de temas universais como “Estranha Forma de Vida”, “Saudades do Brasil em Portugal”, “Fado Tropical”, “Fado Português”, “Canção do Mar”, “Sabiá”, “Eu Sei Que Vou Te Amar”, ou “Os Argonautas”, entre outros.
Além deste projecto, sou directora e professora de canto e de representação na Escola de Teatro Musical MStudio, em Leiria. 



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